Extracto de Jonas o Louco.
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- O que aconteceu á Ana?
- Não sei bem, mas acho que resolveu mudar-se para outro hospital ou clínica. O rapaz com quem teve um caso não a largava, não a deixa em paz.
- Eu gostava dela, aqueles olhos verdes encantaram-me.
- Pois é! Agora tem de aturar a bruxa velha!
- Que é bruxa já tinha reparado mas não é velha!
- Uma jovenzita...
- Pode ter alguma idade mas mostra juventude de espírito e no fundo isso é que importa.
- Está-me a dar música? Não precisa disso para ter umas bolachitas! Replica a enfermeira com um sorriso de escárnio.
- Estar a ignorar esses cabelos grisalhos, algumas rugas, é insultá-la. São as marcas da sua vida. O brilho nos olhos é seu, é a sua alma. Aí se vê se desistiu da vida e é uma velha ou se vai á luta e quer viver. Pelo que vejo ainda quer viver um pedaço mais...
- Você não me conhece de lado nenhum...
- Diga-me que estou errado! Quando me diz que sou uma tarefa está-me a dizer: Este não é o meu mundo! Existe outro onde eu vivo e sou feliz! Este é aquele onde vivo e obtenho meios para poder ir para o outro onde sou feliz e realmente vivo. A leitura de escritores quase tarefas fazem-lhe isso, voar para outros mundos, outras realidades, algumas bem felizes, outras extremamente penosas. Foi isso que vi até agora...
- Vou buscar as bolachas.... E saiu intempestivamente.
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